Nesta edição das “Conversas Diferentes”, Paula Moreira, diretora da PMR Imobiliária, recebe Rita Miranda, a maior referência de Home Staging em Portugal e presidente da APHS - Associação Portuguesa de Home Stagers.
Ao longo da conversa desmistificam-se ideias erradas, exploram-se casos reais de sucesso e partilham-se recomendações práticas para quem pretende vender casa com mais rapidez e pelo melhor valor.
Se pensa vender o seu imóvel e quer saber como o Home Staging pode transformar a percepção do mercado, esta conversa é para si.
Paula Moreira (PM): Rita, muito bem-vinda às nossas “Conversas Diferentes”! Começava já com um desafio. Muitas pessoas fazem confusão, o que é natural, entre Home Staging e decoração. Acham que é tudo a mesma coisa. "Ah, o que vocês fazem é decoração!". Já ouviste isto certamente muitas vezes. Afinal, é tudo igual ou não?
Rita Miranda (RM): Obrigada pelo convite! Há 13 anos que lido com essa dúvida e não, não é a mesma coisa. Como tu bem sabes, o Home Staging é uma técnica para valorizar imóveis. Não tem nada a ver com decoração de interiores.
A decoração de interiores vem da área das artes. É estética, é personalizada, é feita ao gosto do cliente. O Home Staging é o contrário: é despersonalizar.
É uma técnica da área imobiliária que tem como objetivo valorizar o imóvel e permitir que quem entra o consiga visualizar como seu. Que se projete naquele espaço.
Por isso é tão importante perceber a diferença entre Home Staging e decoração. São áreas distintas. Os profissionais são diferentes. A abordagem é diferente.
E há um ponto-chave: o objetivo do Home Staging é vender o imóvel. Já a decoração visa o conforto e o bem-estar de quem vai viver lá. O foco é outro, a lógica é outra.
PM: Sabes que há dias vivemos precisamente o caso inverso. Uma pessoa contactou-nos porque tinha visto o Home Staging num imóvel à venda pela PMR Imobiliária. Trabalha numa associação e disse-nos: “gostava que fizessem um Home Staging aqui no nosso espaço.” E eu respondi: “Podemos ir aí ajudar com alguma decoração mas isso não é Home Staging.”
RM: Acontece muito! Temos pessoas que nos ligam a pedir um Home Staging para a casa delas, e a primeira pergunta que faço é: “Está a vender o imóvel?”
Se a resposta é “não”, então não é Home Staging.
PM: Temos falado com várias pessoas nos últimos dias, no âmbito desta entrevista, para perceber o que gostariam de ver esclarecido. Usamos Home Staging nos imóveis da PMR Imobiliária, mas hoje queremos falar sobretudo para quem nos ouve, proprietários que podem estar a vender a casa por conta própria, sem recorrer a uma imobiliária. Quando pensamos vender casa, por onde é que devemos começar?
RM: Devemos começar por pegar no telefone e ligar a um Home Stager. Essa é a primeira coisa.
Porquê? Porque, por muito que eu explique que é importante valorizar o imóvel, identificar pontos fracos, perceber se é preciso limpar, arrumar ou acrescentar algo... nunca será igual à avaliação feita por um profissional.
O Home Stager entra no imóvel com olhar técnico. Analisa tudo: localização, tipologia, área, público-alvo, concorrência no mercado. E depois constrói uma encenação com base no que esse público precisa de ver.
Por isso, quando me pedem "umas dicas", eu digo que posso dar — mas são só isso, dicas. Como quem dá sugestões de investimento financeiro. Não substitui o trabalho de um profissional certificado.
PM: E esse trabalho não é só “de portas para dentro”.
RM: Nada disso! Costumo brincar dizendo que o Home Staging é muito mais do que almofadas e limões. É muito mais do que isso.
PM: Estavas a tocar num tema importante: um Home Stager certificado. Como é que sabemos quem são os profissionais realmente certificados? Como é que alguém, em qualquer ponto do país, pode encontrar a pessoa certa para preparar o seu imóvel?
RM: O primeiro passo é simples: ir ao site da Associação Portuguesa de Home Stagers e consultar a lista de associados. A associação reúne profissionais certificados e ativos. Porque uma coisa é alguém ter tirado uma certificação há dois ou três anos e depois nunca ter trabalhado na área. Outra coisa é ser um profissional em exercício, com projetos feitos, experiência no terreno e que continua a atualizar-se.
Infelizmente, o que acontece muitas vezes é o seguinte: alguém tem um certificado, mas não tem prática, não tem portefólio, não pertence à associação, e mesmo assim apresenta-se como especialista.
PM: Ou seja, é como em qualquer profissão. Quando procuramos um arquiteto, garantimos que pertence à Ordem dos Arquitetos. Quando procuramos um advogado, confirmamos que está inscrito na Ordem dos Advogados.
RM: Exatamente. A associação não é uma ordem profissional, mas é a única entidade em Portugal que certifica Home Stagers, que acompanha o seu percurso e que garante qualidade.
Porque um verdadeiro Home Stager não olha só para o interior do imóvel. Tem uma visão global do processo: desde a angariação do imóvel, passando pelas fotografias, pela estratégia de marketing digital, até ao momento da escritura.
Ajuda a planear, a encenar e a apresentar o imóvel de forma estratégica. E isso exige conhecimento, sensibilidade e muita prática. Não é só chegar, colocar uns móveis e tirar fotografias bonitas. Há um caminho por trás.
PM: E falámos há pouco sobre como é essencial envolver um Home Stager logo no início do processo. Mas e se o imóvel já está à venda? E se já está online ou entregue a uma mediadora mas não tem resultado?
RM: Também estamos sempre a tempo. Desde que o imóvel esteja no mercado é o momento certo para fazer Home Staging. Já tivemos muitos casos em que os proprietários só nos contactaram depois de meses ou mesmo anos com o imóvel à venda.
PM: E normalmente já passaram por vários consultores, certo?
RM: Sim. Imagina um imóvel que esteve à venda dois anos. Isso corresponde, em média, a quatro contratos de mediação de seis meses. Se nenhum consultor identificou o problema e ninguém interveio com Home Staging, o imóvel ficou estagnado.
E o que acontece muitas vezes? O proprietário perde confiança. Mas quando nos contacta, fazemos o Home Staging… e o imóvel vende-se. Às vezes em dois meses. Às vezes em duas semanas. Já tivemos casos que se venderam em 24 horas.
O importante é as pessoas perceberem que nunca é tarde para preparar o imóvel da forma certa. Esteja ele vazio, mobilado ou habitado, tudo é exequível.
PM: Aliás, uma das questões que mais ouvimos é: “Mas eu moro na casa… assim não dá para fazer Home Staging, pois não?”
RM: Ouvi isso algumas centenas de vezes!
PM: E é comum essa ideia errada de que Home Staging só se faz em casas vazias ou em imóveis novos.
RM: Sim. E é importante desfazer esse mito. O Home Staging começou em imóveis ocupados.
Foi nos anos 70, pela mão de uma senhora chamada Barb Schwarz, nos Estados Unidos. Ela era consultora imobiliária e tinha um imóvel à venda há meses, com os proprietários ainda lá a viver.
Aproveitou um fim de semana em que estavam fora e, com autorização, reorganizou o espaço: retirou peças, reposicionou outras, despersonalizou. E o imóvel, que estava à venda há quase dois anos, vendeu-se nesse fim de semana.
PM: Ou seja, a origem do Home Staging não está na compra de mobiliário novo, mas sim no saber trabalhar com o que já existe.
RM: Exato. A maioria dos imóveis em Portugal não está vazia. As pessoas moram neles. E é precisamente nesses casos que o Home Staging faz mais diferença.
O desafio está em usar os elementos disponíveis, reorganizar e valorizar o imóvel sem recorrer a remodelações nem a investimentos avultados. É possível. E é essencial.
PM: Falámos sobre o facto de o Home Staging se aplicar a imóveis ocupados, o que é importante desconstruir. E, como referiste, não se trata de mexer na casa das pessoas, mas sim no imóvel enquanto produto.
RM: Exatamente. O que fazemos não é invadir o espaço pessoal de ninguém — é valorizar o imóvel. Alteramos o aspeto do imóvel, não a vida da pessoa.
E, normalmente, quando explicamos isso com clareza aos proprietários, eles percebem. A maior resistência não está nos proprietários. Está, muitas vezes, nos consultores imobiliários.
PM: Sim… porque muitos ainda olham para o Home Staging como um custo e não como um investimento.
RM: Ou porque acham que vai dar trabalho. E depois vemos imóveis mal preparados a circular nas plataformas, com fotografias pobres, sem enquadramento, sem cuidado.
Ou pior: vemos imóveis mal preparados que foram "melhorados" digitalmente com fotografias em 3D, com mobiliário virtual, ambientes criados por inteligência artificial... E isso pode parecer interessante no momento, mas gera desilusão quando o cliente visita o imóvel. E a desilusão, no mundo dos negócios, é a pior emoção possível.
PM: Claro. Cria-se uma expectativa que depois não corresponde à realidade. E isso mata o negócio.
RM: Exactamente. É como eu costumo dizer: uma fotografia pode ser lindíssima, mas se o que vemos ao vivo não corresponde, há uma quebra de confiança imediata.
É como se me dissessem: “A sua cara pode ficar fantástica com botox ou com filtros.” Está bem, mas não é a realidade. E o que estamos a vender é um imóvel real, não uma projeção digital.
O Home Staging é a experiência real de visitar um imóvel preparado para a venda.
PM:
E também passámos por isso nos primeiros tempos. Tivemos clientes que perguntavam: “Mas vocês colocam tudo só para a fotografia e depois levam embora?”
RM: Pois... e isso é o erro mais comum.
Se colocamos tudo só para a fotografia e depois retiramos, voltamos ao mesmo ponto: desilusão na visita. E isso tem um preço. O cliente oferece abaixo. O negócio torna-se mais difícil. O imóvel pode desvalorizar.
E nenhum proprietário quer propostas baixas. Nenhum consultor quer negócios complicados. Tudo isso se evita com uma experiência coerente da fotografia à visita presencial.
PM: E ainda há outro ponto importante: a imagem do consultor imobiliário também sai afetada. O cliente sente-se enganado.
RM: Completamente. “Este consultor enganou-me.”
E basta um caso assim para perder a confiança. Antigamente faziam-se aquelas fotografias com lentes que distorciam o espaço, tudo parecia enorme... e depois a pessoa entrava no imóvel e achava tudo minúsculo.
Felizmente o mercado evoluiu. Mas agora estamos a cair no mesmo erro, com o Home Staging virtual.
PM: Que, como tu dizes, não existe.
RM: Não existe. Não é Home Staging.
Home staging é preparar o imóvel físico para uma visita real.
Durante a pandemia, houve vendas feitas apenas por internet, mas foram exceções num contexto muito particular. Hoje, o comprador quer visitar, sentir, perceber. E tem todo o direito.
PM: Falámos há pouco sobre o que devemos fazer em primeiro lugar, que é contactar um Home Stager. E é mesmo assim que já se faz nos mercados mais maduros. Mas e no caso de quem já tem o imóvel à venda? Estamos, provavelmente, a falar com muitas pessoas que já colocaram o imóvel online ou já estão a trabalhar com uma mediadora. Já o têm no mercado há algum tempo e... nada acontece. Esta é uma realidade cada vez mais comum. Quem é que, no mercado atual português, te contacta mais? E para quem está disponível este serviço? Porque não são só os proprietários, certo?
RM: Certo. É todo o mercado imobiliário. Não podemos dizer que é apenas para consultores imobiliários ou só para promotores. Temos muitos proprietários que nos procuram diretamente e dizem: "Tenho o meu imóvel à venda há três meses e ele não tem visitas. O que posso fazer?"
PM: Ou seja, estamos sempre a tempo, não é?
RM: Desde que o imóvel esteja no mercado para venda, é sempre o momento certo para se fazer Home Staging. Já tivemos casos de proprietários que tinham o imóvel à venda há um ano ou dois, e quando quiseram voltar a colocá-lo no mercado, decidiram contactar-nos antes de chamarem novamente um consultor imobiliário. E porquê? Porque perceberam que, se tiveram quatro contratos imobiliários de seis meses e nenhum consultor identificou que o problema estava na forma como o imóvel estava a ser apresentado, então havia algo a melhorar. Fizemos o Home Staging e o imóvel vendeu-se às vezes em duas semanas, outras em dois meses, outras em 24 horas.
O que é importante que as pessoas percebam é que, se têm um imóvel à venda, estão sempre no tempo certo para contactar um Home Stager. E não importa se o imóvel está vazio, ocupado ou mobilado. Tudo é exequível. E isso é essencial para termos um mercado mais eficaz. Porque, se trabalhássemos apenas imóveis vazios, estaríamos a excluir uma grande parte do mercado imobiliário precisamente a que tem proprietários a viver nos imóveis.
PM: Isso é algo que também ouvimos recorrentemente da parte dos clientes. Dizem-nos muitas vezes: “Ah, mas na minha casa não dá, porque eu vivo cá”. Já ouviste isto algumas centenas de vezes, não?
RM: Sim, sem dúvida. Há sempre essa ideia de que, como vivem na casa, não é possível fazer Home Staging. E é normal que pensem assim, porque se fala muito em despersonalizar, em destralhar, em tornar o espaço neutro. Mas, como costumo dizer, o Home Staging começou precisamente em imóveis ocupados.
Na década de 70, a Barb Schwartz que era consultora imobiliária — tinha um imóvel de clientes que ainda lá viviam. O imóvel não vendia. Então ela pediu autorização, entrou em casa enquanto os proprietários estavam fora e reorganizou o espaço apenas com o que lá estava. Guardou o que não fazia sentido, valorizou o que era importante e encenou o imóvel. Resultado: um imóvel que estava há quase dois anos à venda foi vendido num fim de semana.
Quando se percebe que o Home Staging nasceu assim, entende-se a verdadeira essência da técnica. Claro que, hoje em dia, vemos muitos projetos bonitos com móveis novos, decoração moderna, mas isso é só uma parte do Home Staging e é uma parte pequena, porque o mercado é maioritariamente composto por imóveis habitados.
PM: E é importante sublinhar que o Home Staging não é invadir ou desrespeitar o espaço de ninguém. Não se mexe na casa das pessoas de forma invasiva.
RM: Exatamente. Nós não invadimos o espaço de ninguém. Alteramos o imóvel com respeito, explicando sempre o que vai ser feito e porquê. A partir do momento em que explicamos isso aos proprietários, eles entendem perfeitamente. A grande lacuna não está neles, está muitas vezes nos consultores imobiliários que não querem entender o Home Staging, porque acham que vai dar trabalho. Ou pior, que é um custo, em vez de perceberem que é um investimento.
PM: E ainda há quem pense que basta fazer umas fotografias bonitas e já está.
RM: Sim, vemos isso muitas vezes. Imóveis mal preparados, mas com fotografias renderizadas ou feitas com inteligência artificial que os fazem parecer maravilhosos. E depois, quando o comprador visita, sente-se defraudado. A expectativa que foi criada com aquelas imagens não se concretiza na realidade. E todos sabemos que a desilusão é a pior emoção que se pode gerar num processo de venda.
PM: E isso afeta diretamente a perceção sobre o consultor.
RM: Claro. Porque o cliente não vai pensar que o imóvel foi mal fotografado ou mal preparado. Vai pensar que foi enganado pelo consultor imobiliário. E isso afeta a credibilidade de quem está a representar o imóvel.
PM: E, infelizmente, ainda vemos quem use Home Staging virtual que, na prática, não existe. Porque o Home Staging é uma experiência real.
RM: Exato. A visita ao imóvel tem de ser coerente com aquilo que foi comunicado visualmente. O Home Staging não é apenas para a fotografia. É para a experiência completa de visita. É para criar emoção, ligação, identificação. É isso que leva à decisão de compra e isso só se consegue com um trabalho feito no terreno, por profissionais qualificados.
PM: Rita, recentemente estivemos na terceira conferência da Associação Portuguesa de Home Stagers, já com um grupo muito interessante de profissionais certificados. Tivemos também a oportunidade de estar em contacto com muitos colegas e ouvir várias histórias. Há algum número em particular que gostasses de partilhar sobre os tempos de venda ou resultados que vos têm sido reportados?
RM: Sim, claro. Desde a primeira conferência até esta terceira, há um número que se tem mantido bastante constante: mais de 80% dos imóveis intervencionados com Home Staging são vendidos nos primeiros quatro a cinco meses. Em alguns anos essa percentagem é de 86%, noutros 88%, noutros 85%, mas anda sempre nesse intervalo. E porquê que isto é importante? Porque demonstra consistência. Mostra que o Home Staging não é uma moda, é uma técnica com resultados reais, aplicada há mais de cinquenta anos em todo o mundo, e em Portugal há pelo menos treze anos, desde que comecei a implementá-la. Esta consistência mostra-nos que há retorno, e que esse retorno é visível.
PM: E esse retorno pode ser medido em quê? Em tempo? Em valor?
RM: Em ambos. Costumo dividir o retorno em três grandes grupos. O primeiro é a defesa do valor do imóvel. Em Portugal, a maioria dos projetos de Home Staging serve para isso: proteger o valor do imóvel no momento da entrada no mercado. Ou seja, o objetivo não é inflacionar o preço, mas sim garantir que o imóvel não é desvalorizado por estar mal apresentado.
PM: Essa é uma distinção importante. Porque há quem pense que o Home Staging serve para aumentar o preço.
RM: Não é isso. O que o Home Staging faz é assegurar que o imóvel se apresenta da melhor forma possível para justificar o seu valor. Depois, temos outro grupo de imóveis que já foram alvo de remodelações ou investimentos prévios. Nestes casos, o Home Staging serve para proteger e valorizar esse investimento feito. Continuamos a falar de defesa de valor, mas agora de um valor já aumentado. Por fim, há um terceiro grupo, mais pequeno, de imóveis em que o Home Staging ajuda a mudar o mercado-alvo. E quando isso acontece, é natural que também o valor de venda possa ser ajustado. Mas este é sempre o resultado de uma estratégia muito clara. Em todos os casos, o objetivo é garantir que o imóvel se vende pelo seu valor real ou seja, um valor justo, coerente com o mercado e com o produto.
PM: Sabes que eu, quando falo de percentagens de valorização, tenho sempre algum receio de criar expectativas demasiado altas. Porque às vezes as pessoas não entendem que o imóvel não subiu de valor com o Home Staging ele estava, isso sim, desvalorizado antes.
RM: Isso mesmo. Dou-te um exemplo prático. Tivemos um dos nossos melhores casos de sucesso com um imóvel que acabou por ser vendido por 60% acima do valor inicialmente praticado. E as pessoas perguntam logo: “Mas foi feita uma remodelação?” Sim, houve uma obra. Mas essa obra nem chegou a 10% do valor do imóvel. O que mostra que, mesmo com uma intervenção moderada, bem direcionada e com Home Staging a reforçar a apresentação, é possível ter um resultado muito significativo.
PM: E também temos o exemplo recente de um imóvel nosso, que vale a pena partilhar. Era um imóvel que estava no mercado há algum tempo, em parceria com outra mediadora. Estava habitado, não estava preparado, nem limpo. A nossa cliente, sendo investidora, teve visão, e com o apoio da nossa consultora, percebeu o potencial daquele imóvel. Depois de o esvaziar e fazer uma boa limpeza, fizemos o Home Staging. Não houve remodelação. E foi vendido pelo preço que estava anunciado há muito tempo, mas que ninguém pagava. A nova proprietária comprou por um valor mais baixo, investiu no Home Staging, e revendeu o imóvel por 17% acima. É um excelente exemplo daquilo que falas.
RM: Por isso é que eu costumo dizer que os 7 a 10% de valorização são o mínimo. Eu gosto sempre de apresentar os números mais conservadores, para não criar expectativas que depois não se confirmem. Mas na verdade, há muitos casos em que esse retorno é bem superior como o teu exemplo prova. E tudo isto, claro, desde que o imóvel esteja a um valor justo de mercado. Porque o Home Staging não resolve tudo se o preço estiver desfasado da realidade.
PM: E para além do valor, o tempo de venda também encurta. Fala-se muito nisso, mas é mesmo assim?
RM: Sim, e há dados concretos. Os imóveis com Home Staging vendem-se, em média, três vezes mais rápido. E não é um número tirado do ar, é com base em estatísticas e em casos reais. Por exemplo, tivemos um imóvel em Benfica, numa rua onde estavam mais quatro imóveis semelhantes à venda. A consultora que trabalha connosco há anos contactou-nos. Era um imóvel ocupado, com todas as condicionantes associadas, mas trabalhámos com o que existia. E o imóvel foi vendido em três semanas. Os outros ficaram no mercado durante vários meses. E ainda hoje estão à venda alguns deles.
PM: E isso prova que o Home Staging não se limita ao interior do imóvel. Porque o profissional analisa tudo: a localização, os imóveis concorrentes, a perceção de valor, a forma como o imóvel vai entrar no mercado...
RM: É isso mesmo. O Home Staging é uma técnica estratégica. E essa estratégia faz toda a diferença para o proprietário, para o consultor e até para a imagem da imobiliária. Um imóvel bem preparado gera um efeito de contágio positivo. Porque o cliente que vê uma carteira de imóveis bem apresentados, também vai querer que o seu imóvel esteja assim. E o consultor passa a ser referenciado. E vêm mais negócios. É uma reação em cadeia.
PM: E a verdade é que quando um cliente visita a página de um consultor que tem todos os imóveis bem preparados, esse cliente também quer ter o seu imóvel assim. E, para o comprador, também é interessante ver uma casa que está bem apresentada, porque percebe logo que isso não é habitual.
RM: Isso é muito importante. E há outro ponto que está diretamente ligado a isso: a questão do virtual. Hoje em dia, com a inteligência artificial, caímos facilmente no erro de olhar para uma fotografia e pensar que aquele espaço existe daquela forma, quando na verdade não existe. A IA tem tendência a repetir-se, vemos os mesmos móveis contemporâneos, os mesmos sofás, as mesmas cores e isso cria uma ilusão. E o problema é que muitos clientes, ao visitarem os imóveis, deparam-se com uma realidade completamente diferente da que viram nas imagens.
PM: E sentem-se enganados.
RM: Exatamente. Porque quando se aposta apenas em imagens criadas digitalmente, que não correspondem à realidade, o que se gera é uma emoção negativa. E qualquer pessoa que tenha um negócio sabe que não se pode fechar vendas com base em emoções negativas. Até pode haver negócio, mas será sempre com uma proposta muito abaixo do valor. E nenhum proprietário quer isso, assim como nenhum consultor quer receber propostas abaixo do que é justo.
PM: Ou seja, esse impacto negativo projeta-se também sobre o consultor imobiliário.
RM: Claro. A pessoa entra no imóvel e sente-se enganada. E essa desilusão recai sobre quem a levou até ali. Começa a pensar que o consultor a enganou, que a fotografia prometia uma coisa e afinal o espaço não tem nada a ver. Isso já acontecia há uns anos com aquelas lentes de grande angular, que distorciam completamente o espaço. Agora estamos a assistir ao mesmo fenómeno, mas com tecnologia mais avançada. O problema é o mesmo: criam-se expectativas que não são cumpridas.
PM: E é aí que entra o verdadeiro Home Staging. Porque o objetivo não é fazer um projeto bonitinho para a fotografia. É preparar o imóvel para que a experiência de visita seja coerente com o que foi anunciado.
RM: Isso mesmo. O Home Staging é uma técnica, não é só estética. E há outra coisa que é importante dizer: o verdadeiro Home Stager é aquele que trabalha em qualquer cenário. Seja num imóvel vazio, seja num imóvel ocupado, com os objetos do dia a dia dos proprietários. É saber intervir com aquilo que existe e, mesmo assim, conseguir criar um ambiente apelativo, que permita vender mais rápido e por um valor justo ou acima do mercado. Isso é que distingue o verdadeiro profissional dos “projetos bonitinhos” só para fotografar.
PM: E é por isso que, quando fazemos os nossos projetos, dizemos sempre que são as nossas Home Stagers que os fazem. Não é a PMR Imobiliária que faz o Home Staging. Eu e a nossa consultora Célia Escrivães somos Home Stagers certificadas, fizemos formação, temos projetos realizados, mas a imobiliária em si não faz. Trabalhamos com profissionais, e até quando colaboramos com outros consultores, deixamos claro que eles estão lá para ajudar a carregar sofás ou almofadas, não para opinar sobre a parte técnica.
RM: Isso é fundamental. Porque há muita técnica envolvida. Muito mais do que apenas colocar objetos bonitos. Cada detalhe tem um porquê, uma intenção. E é esse conhecimento técnico que faz a diferença nos resultados.
PM: Acho que com esta conversa conseguimos desmistificar muitos pontos. Mas quero deixar-te à vontade para acrescentares alguma coisa. Se houver algum aspeto que consideres essencial passar a quem nos ouve, este é o momento.
RM: Há muitas coisas que fazem o Home Staging ser diferente de outras abordagens. Mas se tivesse de resumir, diria que o que o torna verdadeiramente diferente é a forma como o imóvel entra no mercado. É a estratégia por detrás da apresentação. Isso tem impacto no valor, no tempo de venda, mas também na reputação do consultor. Um imóvel bem trabalhado pode gerar várias referências, novos negócios, outras angariações. E isso só acontece porque houve uma perceção positiva desde o início. O Home Staging é, acima de tudo, uma ferramenta de estratégia comercial. E como tal, deve ser usada com profissionalismo.
PM: E a realidade é que, quando um cliente visita a página de um consultor que tem todos os imóveis bem preparados, o cliente também quer ver o seu imóvel assim. E, para o comprador, é sempre mais apelativo ver algo bem apresentado e perceber que isso não é o padrão, mas sim um diferencial.
RM: E há algo muito importante aí. Hoje em dia, com a proliferação da inteligência artificial, temos cada vez mais imagens de imóveis todas iguais. Vemos os mesmos móveis contemporâneos, as mesmas paletas de cores, os mesmos padrões. Começa a ser difícil perceber o que é real e o que foi gerado artificialmente. O problema é que, quando o cliente visita o imóvel, aquilo que vê não corresponde ao que foi mostrado online. E isso gera uma enorme frustração.
PM: E isso prejudica a experiência, a confiança, o processo de venda.
RM: Totalmente. A desilusão quebra qualquer intenção de compra. E, como já dissemos antes, esse sentimento negativo é automaticamente projetado no consultor que apresentou o imóvel. O cliente sente-se enganado. E isso mancha a imagem profissional do consultor.
PM: E quem usa apenas esse tipo de recurso para vender está, na prática, a criar falsas expectativas.
RM: Exatamente. E pior: está a promover algo que não existe. Um verdadeiro Home Stager não faz isso. Um verdadeiro Home Stager trabalha com a realidade com imóveis ocupados, com imóveis mobilados, com limitações. E é aí que se vê a diferença. Fazer um projeto bonito num imóvel vazio, com tudo novo, é relativamente fácil. Mas fazer um bom Home Staging num imóvel onde as pessoas vivem, com objetos pessoais, e mesmo assim transformá-lo num produto atrativo, isso sim é verdadeiro profissionalismo.
PM: Muito obrigada, Rita. Acredito que quem nos ouviu ficou com muito mais clareza sobre o que é, e o que não é, o Home Staging. E sobre o impacto que esta técnica pode ter na venda de um imóvel. Agradeço-te mais uma vez por esta partilha é mesmo importante que possamos continuar a informar e a preparar melhor o nosso mercado.
RM: Obrigada eu, Paula.



